VIDA DE JOÃO MARIA CARRIÇO INSPIROU LIVRO INFANTIL
Updated on 20/05/2024O livro “O Super-Herói João Maria”, com texto da autoria de Joana Rita Carriço e ilustrações de Bruno Clériston, foi lançado no passado dia 18 de maio, na Escola Sede do Agrupamento de Escolas João Maria Botas Carriço, em Monforte, onde para além dos pais do João Maria, a irmã (autora do livro), familiares, amigos e centenas de pessoas, estiveram presentes o Presidente do Município de Monforte, Gonçalo Lagem, acompanhado pelo Vice-Presidente e Vereadora do seu executivo, Fernando Saião e Mariana Mota.
Em declarações, Gonçalo Lagem afirmou que “este livro nasceu como mais um contributo para preservar a memória do João Maria que partiu cedo de mais mas deixou um exemplo de vida e resiliência incrível. Hoje, enaltecemos uma vez mais o seu legado e os valores que pautaram a sua vida e transmitiu a todos os que com ele se relacionaram e que, certamente, perdurarão no tempo”.
“O Super-Herói João Maria” é, conforme se lê na sinopse, “um conto sobre o menino que se tornou Super Herói a ajudar os outros e a ensiná-los a aproveitar a vida. Um pouco da sua luta pela vida, com a ajuda dos seus pais e da mana, e da sua forma tão simples de ultrapassar os problemas. Nesta história, o João Maria ensina todos os(as) meninos(as) a serem felizes e a nunca desistirem dos seus sonhos.”
A cerimónia iniciou-se com o Hino à Alegria interpretado ao violino por Érica Carrajola, e, após as intervenções de Joana Rita Carriço, dos seus pais, Cristina Botas Carriço e João Rui Carriço, e de Gonçalo Lagem, seguiram-se as atuações dos Bellota Trompetera, Ojos.Gitanos e Os Contramão, três grupos de Monforte, formados por elementos que conheciam bem o João Maria, e uma coreografia pela turma de crianças do grupo Flamencura.
O João Maria Botas Carriço nasceu a 4 de março de 2005, com uma má formação congénita ao nível das vias respiratórias superiores, sendo sujeito, logo após o seu nascimento, a várias intervenções cirúrgicas para poder sobreviver.
Condição obrigatória à sua sobrevivência foi uma traqueostomia, que seria transitória após muitas cirurgias que o acompanhariam ao longo da sua vida nos diferentes estágios de crescimento e evolução dos tecidos.
Durante a sua curta vida, o João Maria marcou toda a sociedade Monfortense pelo seu exemplo de força e superação, na forma como lidava com a adversidade.
Não só as 42 anestesias gerais que ultrapassou, mas a sua forma de viver, os seus sonhos, a sua energia contagiante, ocultavam completamente as limitações (pensaríamos nós) que a cânula impunha. A Cânula no João Maria era só um adereço.
O seu percurso escolar exigiu um acompanhamento em conformidade e mais atento, pois os auxiliares, professores e colegas, tinham que estar sensíveis às operações normais de limpeza e supervisão da cânula. Isto nos primeiros anos, porque muito rapidamente o João Maria se tornou autónomo.
A sua inconfundível voz, tão terna quanto especial, tinha a capacidade de nos ligar em redor das coisas boas da vida. A sua serenidade perante os diferentes obstáculos pasmava-nos e fazia de nós pessoas muito melhores.
A traqueostomia nunca impediu o João Maria de fazer o que quer que fosse, bem como nunca a utilizou para diluir e fundamentar qualquer limitação, muito pelo contrário. O João Maria ocultava-a.
Ao longo dos seus 16 anos, a sua força de viver foi incrível. De trato dócil, menino sempre educado, humilde e sincero, o João Maria, amava a vida, talvez porque esta o estava constantemente a pôr à prova e lhe dizia todos os dias que era tão preciosa quanto volátil. O João Maria respeitava-a. À vida e a todos os que faziam parte dela. Da sua! Da dos outros!
Num dos seus normais dias de escola, lá surgia a notícia do sofrimento de outra cirurgia, de outra viagem para a Suíça, onde era acompanhado desde tenra idade, em paralelo com a equipa de pediatras do Estefânia. O perigo, a incerteza do sucesso, a preocupação de mais uma anestesia geral, o sacrifício da recuperação… tudo de novo… Para o João Maria, apenas mais uma parte do processo que o levaria um dia mais tarde a poder abdicar da traqueostomia. A calma e a força com que ele encarava cada uma das etapas, leia-se cirurgia, fosse qual fosse a complexidade e o risco, serenavam o espírito de todos quantos faziam parte dele e o amavam! Incrível mesmo!
O João Maria, o menino luz que viveu apenas 16 anos… mas a intensidade com que o fez, fazem dele imortal. Porque não marcou apenas uma geração, marcou todas as gerações, as que foram e que hão de vir, porque concretizou sonhos, cruzou metas, cumpriu todas as etapas e o seu exemplo é inesquecível para todos.
O João Maria, pela sua personalidade e tudo o que atrás foi dito, também foi reconhecido pelo Município de Monforte em 2019 com a Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro.