Home » VISITANTE » MONFORTE SACRO – IGREJA DO ESPIRITO SANTO
A nave da igreja do antigo Convento do Bom Jesus de Monforte estava integralmente revestida de azulejos, formando dois andares de painéis figurativos envolvidos por cercaduras que imitavam, em trompe-l’oeil, molduras de talha dourada, associados aos ricos pedestais ornamentais e a adereços fantasiosos, como os enquadramentos da porta lateral e do púlpito, e uma janela fictícia, formando um conjunto bem representativo do estilo barroco joanino, já de uma fase avançada dos anos 1740. Embora os azulejos tenham sido colocados na Igreja em 1749, foram pintados alguns anos antes, cerca de 1745.
A análise artística destes azulejos permite atribuir a sua autoria à oficina de Lisboa de Valentim de Almeida [1692-1779], uma das mais ativas e representativas do período conhecido como “Grande Produção Joanina”, e autora de muitas obras importantes em Portugal e no Brasil(1).
Do revestimento azular setecentista que decorava completamente as paredes da nave da igreja, destacam-se dezasseis painéis figurativos historiados, de grandes dimensões.
Treze desses painéis recordam episódios da vida da Rainha Santa Isabel e milagres que lhe são atribuídos, constituindo o mais completo programa iconográfico mais completo da temática Isabelina.
O programador optou por uma organização temática e não cronológica, em três núcleos instalados em locais distintos da nave da Igreja:
PAINEL Nº 01 – MORTE DA RAINHA D. ISABEL E APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA (“A SENHORA DE BRANCO”)
Na véspera da sua morte ocorrida em Estremoz a 1 de Julho de 1336, D. Isabel teve a visão de uma senhora vestida de branco que entrou na sua câmara e que mais ninguém via. Assim todos acreditaram tratar-se de Nossa Senhora que a vinha consolar.
PAINEL Nº 02 – LAVA-PÉS PASCAL E CURA DA MULHER LEPROSA. AS RAINHAS SERVINDO AS FREIRAS DE SANTA CLARA
Na Quinta-feira Santa D. Isabel lavava os pés a doze mulheres leprosas. Segundo os biógrafos terá curado milagrosamente o pé chagado de uma dessas pobres mulheres. No dia da inauguração do refeitório do Mosteiro de Santa Clara, D. Isabel, acompanhada pela sua nora quiseram ir serviram as freiras.
PAINEL Nº 03 – A “SANTA PEREGRINA”
Neste painel a Rainha é representada como a Santa Peregrina, rodeada de anjos, pela sua peregrinação ao longo da vida alcançou a santidade.
PAINEL Nº 04 – VENERAÇÃO DO CORPO DA RAINHA SANTA E PRIMEIROS MILAGRES JUNTO DO SEU ATAÚDE
O ataúde da Rainha D. Isabel ficou exposto a veneração dos fiéis na igreja do Mosteiro de Santa Clara, tendo então, segundo o primeiro biógrafo, ocorrido os primeiros milagres junto do seu túmulo.
PAINEL Nº 05 – MILAGRE DAS ÁGUAS DO TEJO QUE SE APARTAM
Querendo a Rainha D. Isabel visitar o túmulo de Santa Iria, colocado pelos anjos no fundo do rio, as águas abriram-se para lhe dar passagem.
PAINEL Nº 06 – CURA DA FREIRA DO CONVENTO DE CHELAS
Compadecida com o sofrimento de uma freira do Convento de Chelas, D. Isabel colocou sobre ela as suas mãos, fez o sinal da cruz e a doente milagrosamente ficou curada.
PAINEL Nº 07 – MILAGRE DAS ROSAS
Levava uma vez a Rainha Santa moedas no regaço para dar aos pobres, encontrando-a El-Rei lhe perguntou o que levava e ela disse: levo aqui rosas, e rosas viu el-rei, não sendo tempo delas.”
PAINEL Nº 08 – APARIÇÃO DE CRISTO CRUCIFICADO À RAINHA S. ISABEL (’’JESUS MENDIGO E A RAINHA SANTA’’)
Comovida com a miséria de um pobre pedinte, doente e andrajoso, a Rainha D. Isabel tratou-o, deu-lhe de comer e de vestir, lavou-o e deitou-o na sua cama. Ao tomar conhecimento D. Dinis dirigiu-se para quarto, onde reconheceu, deitado no leito o próprio Cristo crucificado.
PAINEL Nº 09 – SÃO FRANCISCO RECEBENDO OS ESTIGMAS DE CRISTO CRUCIFICADO
Segundo a hagiografia de S. Francisco, o santo retirou-se para o Monte Alverno, onde teve a visão de Cristo crucificado que lhe apareceu sob a forma de um Serafim alado, dele recebendo os estigmas da Paixão.
PAINEL Nº 10 – A ÚLTIMA CEIA
Ora. enquanto comiam. Jesus tomou o pão e depois de o abençoar, partiu-o e deu-o aos seus discípulos dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Depois pegando numa taça. deu graças e ofereceu-a dizendo: “Bebei todos. porque isto é o meu sangue, o sangue da aliança que vai ser derramado por vós em remissão dos pecados”.
PAINEL Nº 11 – MILAGRE DOS ESPINHOS OU MILAGRE DAS ROSEIRAS BRAVAS
Para fugir a tentação S. Francisco atirou-se para uma moita de espinhos donde milagrosamente saiu incólume.
PAINEL Nº 12 – INTERVENÇÃO PACIFICADORA DA RAINHA D. ISABEL NO CAMPO DE BATALHA (’’REENCONTRO DE ALVALADE’’)
Quando já se iniciava o combate entre as forças de D. Dinis e do infante D. Afonso, a Rainha D. Isabel atravessou sozinha o campo de batalha montada na sua mula, conseguindo que o infante D. Afonso prestasse obediência a seu pai e que D. Dinis aceitasse e concedesse o perdão a seu filho.
PAINEL Nº 13 – CHEGADA DA RAINHA D. ISABEL AO DESTERRO, EM ALENQUER
O apoio que a Rainha D. Isabel, como mãe extremosa, prestou a seu filho D. Afonso, levou o monarca a ordenar, durante algum tempo, o seu desterro em Alenquer.
PAINEL Nº 14 – CHEGADA DO CORTEJO FÚNEBRE DA RAINHA D. ISABEL AO MOSTEIRO DE SANTA CLARA EM COIMBRA
Chegada do cortejo fúnebre da Rainha D. Isabel ao Mosteiro de Santa Clara em Coimbra Quando o cortejo fúnebre de D. Isabel chegou a Coimbra aguardava-o uma grande multidão que esperava aquela que já considerava santa.
PAINEL Nº 15 – PEREGRINAÇÃO DA RAINHA D. ISABEL A SANTIAGO DE COMPOSTELA
Depois da morte de D. Dinis a Rainha D. Isabel fez uma peregrinação a Santiago de Compostela levando riquíssimas ofertas para o Santuário e recebendo do Arcebispo uma esportela e um precioso bordão de peregrina.
PAINEL Nº 16 – A RAINHA OBSERVANDO OS PLANOS E OBRAS DE SANTA CLARA.
A Rainha D. Isabel dedicou os últimos anos da sua vida à construção do Mosteiro e do Hospital de Coimbra, obras que dirigiu pessoalmente e que custeou com os seus rendimentos e venda de bens pessoais(2).
Cenóbio de freiras clarissas, fundado em 1520 foi um dos mais notáveis mosteiros femininos do Alto Alentejo. Alvo de lamentável demolição em 1946 apenas sobreviveu o excecional conjunto de azulejos com a iconografia da Rainha Santa Isabel, felizmente retirado e museologicamente resguardado. Tudo o mais se perdeu na voragem da destruição, pelo que o estudo do extinto convento impõe o recurso à perspetiva cripto-artística, a partir das fotografias anteriores à demolição.
A sua decoração, enriquecida nos séculos XVII e XVIII segundo o espirito da “arte barroca total”, com o seu equipamento de talha dourada, azulejos, imaginária, pintura policroma de brutesco, têxteis e pratas, era notável.
Após a exclaustração em 1834 e a morte da última freira em 1862, sofre perdas de recheio, e passa a depender do Ministério dos Negócios e da Fazenda. No fim do século XIX é adquirido pelo Marquês da Praia e de Monforte, cujos herdeiros o doam em 1920 à Misericórdia de Monforte.
Além dos painéis de azulejos com Milagres da Rainha Santa Isabel, de cerca de 1745, atribuídos a Valentim de Almeida, que constituem o mais complexo repositório iconográfico sobre a Rainha Santa, apenas se pode entrever a riqueza das decorações a partir de antigas fotografias anteriores a demolição.
Conhecem-se os nomes de alguns artistas envolvidos no programa decorativo, como o pintor de Elvas Agostinho Correia Dinis, que em 1692 dourou a talha do retábulo e pintou os brutescos do teto.
Eram interessantes pinturas dentro do gosto pelo brutesco, um repertório barroco inspirado nos grottesche clássicos e que desde o final do século XVII e até data avançada do século XVIII foi um dos mais fecundos modos de ornamentação interna dos espaços sacros portugueses (tanto na metrópole como nos espaços imperiais). É possível imaginar, assim, o esplendor que esta igreja oferecia aos visitantes antes de ser lamentavelmente arrasada.(1)
A primeira referência desta igreja surge no ano 1296 no contexto de uma relação das igrejas pertencentes ao Padroado Régio de D. Dinis, como igreja de Santo Estevão. Esta foi no entanto, mais tarde substituída por um edifício maior e com um outro patrono religioso – Igreja do Espírito Santo.
Com o intuito de preservar e dar a conhecer este rico património, o Município de Monforte recuperou a antiga Igreja do Espirito Santo, para albergar este magnífico espólio de azulejaria portuguesa do Séc. XVIII .
HORÁRIO DO ESPAÇO:
Domingo – 10:00 às 13:00h
Segunda-feira a Sábado – 09:00 às 16:00h
SERVIÇO DE ARQUEOLOGIA
Edifício SCE – Rua Sérgio Rui Pedrosa Palma Madeira – 7450-135 Monforte
Telefone: (+351) 000 000 000 | Email: arqueologia@cm-monforte.pt
https://wikipedia.org/Ordem-de-Santa-Clara
https://pt.wikipedia.org/ Isabel de Aragão
Folheto Informativo – Monforte Sacro
(1)José Meco, (2)Maria de Lurdes Cidraes, (3)Vítor Serrão/José Militão Silva, da publicação “Os Painéis de Azulejos do Convento do Bom Jesus de Monforte”, editado pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em outubro de 2018