MONFORTE HOMENAGEOU O “BANANA” E O CINEMA AMBULANTE
Atualizado em 08/04/2022Os familiares de Domingos Maria Peças, aos quais se juntaram muitos amigos, viveram uma data particularmente memorável quando, no dia 16 de maio, se reuniram em Monforte para prestar uma homenagem póstuma a esse seu ente querido, falecido no ano de 2005, assinalando, assim, também, o 1º centenário do seu nascimento.
A homenagem contou com os apoios da Sociedade Filarmónica Monfortense “Os Encarnados”, Valentim de Carvalho e de António Feliciano, amigo do homenageado e um dos últimos projetistas de cinema e foi organizada pela família e pela Câmara Municipal de Monforte que quis associar-se ao ato para, dessa forma, deixar o seu reconhecimento público pela dedicação que, durante mais de 50 anos, Domingos Maria Peças prestou ao cinema ambulante, contribuindo para a criação de novos hábitos culturais na população do Concelho. Refira-se que, mesmo depois de viver em Lisboa, desde 1962, Domingos Peças, ou o “Banana”, como era tratado carinhosamente, regressava, todas as semanas, a Monforte, a sua “terra do coração”, para apresentar as novidades cinematográficas.
Revelando particular propensão para a atividade comercial, Domingos Maria Peças, em determinada altura da sua vida, decidiu adquirir um Café, na Rua do Arco, em Monforte, que ficaria conhecido por “Café do Banana”, a alcunha que lhe foi atribuída quando trouxe o primeiro “cacho” de bananas para Monforte, nunca antes visto pela população.
O programa iniciou-se a partir das 11.00h, no salão Nobre dos Paços do Concelho, com a realização da sessão solene que a Câmara Municipal promoveu e à qual se seguiu a inauguração da exposição “O Cinema do Banana”, que estará patente ao público até ao dia 29 de maio, na Galeria Municipal, em Monforte. Às 13.00 realizou-se um almoço de confraternização e às 16.00h, na Sala de Espetáculos d’”Os Encarnados”, viajou-se no tempo, recordando esses anos áureos do cinema português a preto e branco com a projeção do filme em 35mm “Amália – O filme”. O programa terminou, às 19.00h, com uma missa em memória do homenageado na Igreja Matriz.
Intervieram na sessão solene António Feliciano, António Matias (assíduo espetador das sessões de cinema e um dos mais antigos), Artemiso Peças (um dos filhos, representando a família), Mariana Mota, Vereadora da Cultura do Município, Padre Joanees (Pároco de Monforte) e Gonçalo Lagem, o Presidente do Município, que nas comunicações que proferiram, evidenciaram, sobretudo, o carácter excecional de Domingos Maria Peças, a sua honestidade e a perseverança como se empenhou para proporcionar aos seus nove filhos a melhor educação possível.
Gonçalo Lagem felicitou, em particular, os familiares, elogiando a capacidade de mobilização que conseguiu trazer a Monforte dezenas de pessoas e, conhecendo o percurso profissional do homenageado, distinguiu-o como sendo uma pessoa que, para a sua época, foi bastante ousada, empreendedora, inovadora e visionária, afirmando que tudo isso faz dele uma figura ímpar da História da Cultura Monfortense e aproveitou a ocasião para anunciar que irá apresentar ao Executivo Camarário a proposta para que seja atribuído o nome de Domingos Maria Peças a uma rua da vila de Monforte.
Domingos Maria Peças, o “Banana”
Biografia
Domingos Maria Peças, alcunhado por “Banana”, nasceu em Évora a 4 de maio de 1915 e faleceu em Lisboa a 15 de fevereiro de 2005.
Influenciado pela formação católica de seus Pais, Eduardo Celestino Peças e Rosária Pita Peças, pessoas humildes ligadas à indústria da panificação, ingressou no Colégio Salesiano de Évora, respeitando, assim, a vontade de sua mãe que desejava que ele seguisse teologia e fosse Padre. Mas a sua vocação era outra…! E, ainda muito jovem, por volta do ano de 1930, saiu de casa, em demanda de um destino diferente. Vendedor de profissão, ficou a conhecer muitas localidades do Alto Alentejo e, em 1931, fixou-se, então, em Monforte, onde começou a trabalhar na Padaria de Fernando Carvalho.
Casou-se em 1935 com Sílvia Máxima. Desta união nasceram cinco filhos: Maria Rosária, Leonel, Emídio João, Lizete Marília e José Luciano.
Revelando particular propensão para a atividade comercial, decidiu adquirir um Café, na Rua do Arco, em Monforte, que ficaria conhecido por “Café Banana”, a alcunha que lhe foi atribuída quando trouxe o primeiro “cacho” de bananas para Monforte, nunca antes visto pela população.
Entretanto, enviuvou e, em 1945, casou com Joaquina Coelho. Deste segundo matrimónio nasceram quatro filhos: Margarida da Conceição, Alberto José, Artemiso Manuel e Eduardo Manuel (já falecido).
Em 1949, celebrou um contrato para assumir a exploração da Padaria de Fernando Carvalho, conjugando-a, a partir desse mesmo ano, com uma outra atividade, o Cinema ambulante sonoro.
A primeira projeção de um filme, em Monforte, teve lugar na Sociedade “Os Amarelos” e, daí por diante, na Sociedade Filarmónica Monfortense “Os Encarnados“ e no “Quintalão”.
Foram inúmeras as pessoas de todas as idades que, pelos quatro cantos do Alto Alentejo, em Casas do Povo, Sociedades Recreativas, Praças de Touros…, se deixaram fascinar por essa magia da sétima arte, e, embora tenha ido viver para Lisboa em 1962, Domingos Maria Peças regressava todas as semanas a Monforte e arredores para exibir as últimas novidades cinematográficas e matar saudades desta “terra do seu coração”.
Em Lisboa, continuou a alimentar a grande paixão pelo Cinema, participando regularmente em diferentes iniciativas relacionadas com a atividade que eram promovidas por todo o Distrito.
Homem lutador, Domingos Maria Peças, o “Banana”, distinguiu-se, acima de tudo, pela honestidade e pela perseverança como se empenhou para proporcionar aos seus nove filhos a melhor educação possível.