MUNICÍPIO ATRIBUI NOME DE JOÃO MARIA CARRIÇO AO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS
Atualizado em 10/05/2023No seguimento da deliberação tomada por unanimidade pela Câmara Municipal de Monforte, sob proposta apresentada pelo Presidente desse Executivo, e aprovada pela Secretaria de Estado da Educação, realizou-se, hoje, dia 8 de maio, a partir das 10horas, a sessão solene de atribuição do nome de João Maria Botas Carriço ao Agrupamento de Escolas de Monforte e inauguração de um mural (da autoria da escultora Maria Leal da Costa), de forma a perpetuar não só o seu nome mas também o legado que deixou, pois, embora tenha tido uma passagem “demasiado breve” pela vida, foi um “menino” marcante e inspirador que transmitiu à comunidade nobres valores como a “crença, perseverança, superação e coragem”.
Na cerimónia, presidida pelo edil monfortense, Gonçalo Lagem, estiveram presentes os pais, a irmã, demais familiares e amigos do João Maria, e, para além da Delegada Regional de Educação, Maria João Charrua, e do Diretor do Agrupamento, António Parreiras, e da Presidente do Conselho Geral, Fernanda Canatário, e restante comunidade escolar, o Vice-Presidente e Vereadores do Município, Fernando Saião, Mariana Mota e Emídio Mata, e outros autarcas e representantes de diversos organismos públicos e privados, contou com as presenças dos atuais Deputados Alexandra Leitão e Tiago Brandão Rodrigues, que, enquanto ocuparam os cargos de Secretária de Estado Adjunta e da Educação e de Ministro da Educação, respetivamente, acompanharam desde a primeira hora todo processo e cujos empenhamentos foram lembrados e reconhecidos numa placa também descerrada neste ato.
Desde o discurso do Presidente do Município, às intervenções da irmã e da mãe do João Maria, Joana Carriço e Cristina Botas, e da Presidente do Conselho Geral do Agrupamento, também outros momentos marcaram a cerimónia, designadamente a projeção de vídeos com diferentes testemunhos, um momento musical com a interpretação do Hino à Alegria pela aluna Érica Carrajola, ao Violino, e, no órgão, o Professor António Lagarto, uma homenagem prestada pela EPDRAC (Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão que o João Maria frequentava quando faleceu) e que consistiu na leitura de uma mensagem de colegas de Turma e entrega da Camisola da EPDRAC à Escola de Monforte simbolizando o elo de ligação entre as instituições, uma atuação dos músicos João Pedras e Rafael Rodrigues e uma mensagem do conhecido músico Fernando Daniel transmitida por vídeo.
Transcreve-se, a seguir, a fundamentação da proposta apresentada por Gonçalo Lagem e que foi reiterada no discurso que o autarca proferiu na sessão solene emocionando todos os presentes:
O João Maria Botas Carriço nasceu a 4 de março de 2005, com uma má formação congénita ao nível das vias respiratórias superiores, sendo sujeito, logo após o seu nascimento, a várias intervenções cirúrgicas para poder sobreviver.
Condição obrigatória à sua sobrevivência foi uma traqueostomia, que seria transitória após muitas cirurgias que o acompanhariam ao longo da sua vida nos diferentes estágios de crescimento e evolução dos tecidos.
Estava prevista, após 42 vezes no bloco operatório, uma última cirurgia para retirar definitivamente a traqueostomia, quando, no dia 1 de junho de 2021, dia da criança, e com apenas 16 anos, o João Maria perdeu a vida num trágico acidente de viação.
Durante a sua curta vida, o João Maria marcou toda a sociedade Monfortense pelo seu exemplo de força e superação, na forma como lidava com a adversidade.
Não só as 42 anestesias gerais que ultrapassou, mas a sua forma de viver, os seus sonhos, a sua energia contagiante, ocultavam completamente as limitações (pensaríamos nós) que a cânula impunha. A Cânula no João Maria era só um adereço.
O seu percurso escolar exigiu um acompanhamento em conformidade e mais atento, pois os auxiliares, professores e colegas, tinham que estar sensíveis às operações normais de limpeza e supervisão da cânula. Isto nos primeiros anos, porque muito rapidamente o João Maria se tornou autónomo.
A sua inconfundível voz, tão terna quanto especial, tinha a capacidade de nos ligar em redor das coisas boas da vida. A sua serenidade perante os diferentes obstáculos pasmava-nos e fazia de nós pessoas muito melhores.
A traqueostomia nunca impediu o João Maria de fazer o que quer que fosse, bem como nunca a utilizou para diluir e fundamentar qualquer limitação, muito pelo contrário. O João Maria ocultava-a.
Ao longo dos seus 16 anos, a sua força de viver foi incrível. De trato dócil, menino sempre educado, humilde e sincero, o João Maria, amava a vida, talvez porque esta o estava constantemente a pôr à prova e lhe dizia todos os dias que era tão preciosa quanto volátil. O João Maria respeitava-a. À vida e a todos os que faziam parte dela. Da sua! Da dos outros!
Num dos seus normais dias de escola, lá surgia a notícia do sofrimento de outra cirurgia, de outra viagem para a Suíça, onde era acompanhado desde tenra idade, em paralelo com a equipa de pediatras do Estefânia. O perigo, a incerteza do sucesso, a preocupação de mais uma anestesia geral, o sacrifício da recuperação… tudo de novo… Para o João Maria, apenas mais uma parte do processo que o levaria um dia mais tarde a poder abdicar da traqueostomia. A calma e a força com que ele encarava cada uma das etapas, leia-se cirurgia, fosse qual fosse a complexidade e o risco, serenavam o espírito de todos quantos faziam parte dele e o amavam! Incrível mesmo!
O João Maria, o menino luz que viveu apenas 16 anos… mas a intensidade com que o fez, fazem dele imortal. Porque não marcou apenas uma geração, marcou todas as gerações, as que foram e que hão de vir, porque concretizou sonhos, cruzou metas, cumpriu todas as etapas e o seu exemplo é inesquecível para todos.
O João Maria, pela sua personalidade e tudo o que atrás foi dito, também foi reconhecido pelo Município de Monforte em 2019 com a Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro.